sábado, 26 de novembro de 2016

Fidel Castro - herói ou vilão?

Morreu na noite de sexta-feira, dia 25 de novembro, Fidel Alejandro Castro Luz. Personagem controverso da história contemporânea, Fidel chegou ao poder em Cuba em 1959, no auge da Guerra Fria e ali se manteve apesar de todos os reveses que enfrentou.

Lutou contra o embargo promovido pelos EUA à ilha. Repeliu com êxito a tentativa de invasão patrocinada pelos Estados Unidos através da Baía dos Porcos em 1961. No ano seguinte, Cuba se viu no centro de uma crise internacional que quase levou os EUA e a URSS a um conflito direto.

Fidel por muitos será lembrado como assassino, ditador e prepotente. Mandou fuzilar e prender inimigos políticos. Ele e seu irmão Raul são responsabilizados pela falta de liberdade de expressão no país. Muitos não sabem, mas Castro foi alvo de centenas de tentativas de assassinato planejados pela CIA. 

Fidel Castro: líder emblemático

Cuba, sob Castro teve avanços sociais inéditos para uma nação latino-americana na área da saúde e educação e esportes. Muitos se esquecem de conhecer o estado do povo cubano antes da revolução, pois dominados por uma classe política corrupta e títere dos EUA, os cubanos viviam em miséria constante.

O Regime Castrista matou? Sim. Porém menos que as bombas atômicas lançadas sobre o Japão em 1945. A Guerra do Vietnã fez mais de 50 mil norte-americanos perderem a vida em nome da "liberdade". E o que falar das ditaduras militares na América Latina, as quais apoiadas pelos EUA mataram, torturaram e cometeram atrocidades contra seu próprio povo?

Um dia Fidel escreveu que a história o absolveria. Pode ser que sim ou não. Isso depende do ângulo pelo qual observa sua obra política e revolucionária. Só não dá pra ser maniqueísta em História. Fica a dica...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Trump e a democracia

Donald Trump será o 45º presidente dos Estados Unidos da América. O candidato fanfarrão e polêmico ganhou contrariando pesquisas de opinião e superando desconfianças dentro e fora dos EUA.

Para muitos ele é símbolo do self-made man (homem que faz a si próprio, ou seja, cresce por seus próprios méritos). Mas começou sua carreira empresarial com U$$ 1 milhão de presente do pai. Ele já declarou nunca ter fracassado, porém alguns dos seu negócios já faliram.

Artista de rua anuncia a vitória de Trump em Hong Kong

É muito cedo para arriscar sobre o futuro do governo Trump. Mas com certeza será uma gestão pragmática e de acordo com os anseios do seu eleitorado de perfil mais conservador. A história já nos ensina, que as crises econômicas podem levar ao poder personagens histriônicos e caricatos. A Alemanha deu ao mundo Hitler, o Brasil elegeu Jânio Quadros e Fernando Collor. 

Nesse contexto de debates, frustrações, medo e insegurança com a eleição de Trump, a imprensa estatal chinesa declarou que a eleição do novo presidente dos EUA "é o que acontece quando se tem democracia". Lógico que a cutucada é uma forma de exaltar o regime autoritário do gigante asiático.

Para Aristóteles, o grande filósofo grego, a democracia poderia facilmente se degenerar para a demagogia (termo de origem grega que significa "arte ou poder de conduzir o povo").

Mas pensando bem, em um mundo onde tudo é espetáculo e a figura do marketeiro na campanha política é mais importante do que um bom e viável plano de governo, milhões de eleitores (ou democracia de massas) tem sido vítimas fácil dos mais absurdos apelos dos demagógicos.

Fonte:

BOBBIO, Norberto. A Teoria das Formas de Governo; tradução Sérgio Bath. - Brasília: UnB, 1980

O Globo, domingo, 06 de novembro de 2016.

sábado, 5 de novembro de 2016

Padim Ciço - missionário, visionário e milionário

O padre Cícero Romão Batista (1844-1934) foi um grande líder político e religioso no Ceará. Acusado de promover falsos milagres foi excomungado pelo Vaticano. Mas fez da política seu novo sacerdócio.

Foi eleito prefeito, vice-governador e deputado federal. Liderou um exército de jagunços e cangaceiros e deu apoiou uma revolução armada que derrubou um governo constitucionalmente eleito. Concedeu a patente de capitão a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, para que o cangaceiro enfrentasse a Coluna Prestes em sua passagem pelo Nordeste.

O jornalista Lira Neto conta todas essas histórias em seu livro Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. A obra, como o próprio título indica é a biografia do "Padim Ciço" com detalhes da carreira religiosa e política do mito nordestino. 

Entre tantas informações, uma frase dita por um dos seus adversários é antológica. Segundo consta, Cícero "chegou ao Juazeiro missionário, tornou-se visionário e acabou milionário". Será que algum líder eclesiástico se enquadra nessa frase? Pensando bem, qualquer história de vida semelhante é só mera coincidência...


terça-feira, 1 de novembro de 2016

Brizola x Globo - o direito de resposta

Brizola fez história ao conseguir o direito de resposta contra o ofensivo editorial do O Globo. E o fez em horário nobre e no principal programa jornalístico da Rede Globo de Televisão, o Jornal Nacional. 

E mais: quando O Globo publicou seu famoso editorial em fevereiro de 1992, o JN reproduziu o texto à noite na voz de seu o decano apresentador, Cid Moreira. No dia 15 de março de 1994, Brizola teve o seu direito de resposta concedido e lido pelo mesmo Moreira. 

Escrito pelo assessor de imprensa do então governador do Rio de Janeiro, Fernando Brito, o texto foi descrito por Roberto Marinho como tendo o "tom de Brizola". Isso porque em suas memórias, o jornalista diz que "incorporava" o espírito do velho guerreiro.

Brizola: resposta lida por Cid Moreira

Para relembrar, segue abaixo a íntegra o direito de resposta lido por Cid Moreira no JN. As críticas de Brizola ainda são atuais quando se fala em Globo.

Todos sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro. 

Quinta-feira, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar editorial de ‘O Globo’, fui acusado na minha honra e, pior, apontado como alguém de mente senil. Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador Roberto Marinho, que tem 86 anos. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que o use para si.

Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos, que dominou o nosso país.

Todos sabem que critico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário, que para ela representa a transmissão do Carnaval.

Dinheiro, acima de tudo.

Em 83, quando construí a passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar de todas as formas o ponto alto do Carnaval carioca. Também aí não tem autoridade moral para questionar. E mais, reagi contra a Globo em defesa do Estado do Rio de Janeiro que por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior.

E isso é que não perdoarão nunca.

Até mesmo a pesquisa mostrada na quinta-feira revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria antes um dever para qualquer órgão de imprensa, dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção.

Quando ela diz que denuncia os maus administradores deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante do seu poder.

Se eu tivesse as pretensões eleitoreiras, de que tentam me acusar, não estaria aqui lutando contra um gigante como a Rede Globo. Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado.

Quando me insulta por nossas relações de cooperação administrativa com o governo federal, a Globo remorde-se de inveja e rancor e só vê nisso bajulação e servilismo. É compreensível: quem sempre viveu de concessões e favores do Poder Público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesma.

Que o povo brasileiro faça o seu julgamento e na sua consciência lúcida e honrada separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis, gananciosos e interesseiros.

Fonte:

http://www.tijolaco.com.br/blog/20-anos-do-dia-em-que-brizola-venceu-a-globo-o-milagre-em-que-nem-a-gente-acrediitava/