segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A Globo contra Brizola

Na últimas eleições para a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, os partidários do senador Marcelo Crivella reclamaram do tratamento que as Organizações Globo deram ao prefeito eleito. Para quem acompanha a história do grupo empresarial de mídia fundado por Roberto Marinho, os duelos contra determinados inimigos não chega a ser novidade.

Um dos políticos brasileiros que lutou tenazmente contra a Globo foi Leonel de Moura Brizola (1922-2004). Quando o gaúcho cumpria seu segundo mantado como governador do estado do Rio de Janeiro (1991-1995), tentou ferir os negócios da Globo.

Roberto Marinho x Leonel Brizola
Brizola, sentia-se perseguido pela cobertura desfavorável da empresa. Retaliou tentando impedir a emissora do Jardim Botânico de transmitir uma de suas principais atrações anuais: o carnaval carioca.

A resposta veio com força. O jornal O Globo, no dia 07 de fevereiro de 1992, trouxe um editorial demolidor contra o governador. Acusou-o de querer cercear "à liberdade de imprensa". Mais à frente o denominou de "grande demagogo" com discursos repletos de "mentiras e promessas vãs".

Mas o que mais feriu os brios do veterano politico foi a parte em que ele é chamado de senil. Afinal, assegurou o Globo, para além da demagogia e da "deprimente inaptidão administrativa", o "declínio da saúde mental pode acontecer em qualquer momento da vida".

Porém Leonel Brizola não se deixaria intimidar. Exigiu na justiça o direito de resposta. E quando ganhou, não deixou por menos...

Fonte:

O Globo, Para entender a fúria de Brizola (editorial), O País, p. 5, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1992. 

sábado, 29 de outubro de 2016

Salvador Allende - o desafio das esquerdas

A histórica entrevista à revista O Cruzeiro do presidente eleito do Chile, Salvador Allende em 1970, revelou que as dificuldades de ontem dos governos de esquerda na América Latina, são as mesmas do século XXI.

Afirmou, que em seu governo haveria a "manutenção de todas as liberdades públicas, individual, de pensamento, de religião, de imprensa e qualquer outro meio de difusão". Também reiterou o seu repeito às normas democráticas.



Outro ponto de temor: o receio da mudança dos textos escolares "que se imporiam às escolas" e da implantação de normas socialistas e marxistas na educação. As expropriações também eram fator de medo. Allende explicou que só tocaria nos monopólios essenciais ao desenvolvimento da economia chilena.

O presidente reafirmou seu desejo de reatar as relações diplomáticas com Cuba e de não ser tutelado pela Organização dos Estados da América (OEA), a qual por pressão dos EUA em 1962, expulsou o país de Fidel Castro da organização continental.

É bom sempre lembrar: eram tempos de Guerra Fria e da bipolaridade entre os Estados Unidos e União Soviética. Por mais que Allende declarasse que o "socialismo não se impõe por decreto" e sim um processo econômico e social, a propaganda contra seu ideário político já estava massificada entre muitas classes sociais.

Porém, a história mostrou que após o 11 de setembro de 1973, foram os militares que governaram por decreto e impuseram ao país restrições às liberdades básicas de pensamento e política.

Economicamente, o Chile virou o primeiro laboratório das experiências neoliberais da América Latina. Nossos "hermanos" por causa do golpe, para o bem ou para o mal, foram pioneiros na inserção na economia de mercado "globalizada".

Fonte:

O Cruzeiro, ano XLII - nº 43/20 de outubro de 1970, p 124-128.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Salvador Allende - para onde vai o Chile

Em 1970, a equipe da revista O Cruzeiro foi até um simples chalé na Rua Guarda Vieja em Santiago, capital do Chile para entrevistar o recém-eleito presidente do país, Salvador Allende, "o homem mais discutido" na América Latina naquele momento.

Allende e esposa: expectativas e temores

A eleição de Allende havia surpreendido o mundo. "Pela primeira vez um candidato marxista chega ao poder através de eleições livres" - iniciava a matéria do extinto semanário. Fica claro também nas páginas de O Cruzeiro, os enormes impasses e desafios do experiente político chileno. Sem maioria no Congresso, o senador não poderia transigir com "a união dos partidos que o elegeu", uma coalização das esquerdas chamada Unidade Popular (UP).

Destacou-se na entrevista a participação da família Allende na campanha. A esposa e as três filhas participaram ativamente da campanha e ajudaram na conquista do voto feminino. O presidente eleito declarou que o Chile havia incorporado com rapidez "a mulher à vida pública". Prometia ele, que em seu governo, as mulheres alcançariam ampla igualdade de direitos.

Apesar do temores com as conhecidas opções políticas do presidente, Allende afirmou que o caminho para o socialismo no Chile seria "segundo as estritas regras democráticas". Mas para os conservadores, longe de ser um avanço, a vitória da UP era sinal de declínio da democracia chilena.

Em todos os momentos, o veterano político afirmou o respeito às liberdades constitucionais. Mas as tensões eram grandes. O mundo estava em plena Guerra Fria e os EUA estavam preocupados em impedir a posse do presidente antes dele assumir o cargo.

Para os Estados Unidos, não poderia haver possibilidade de um governo socialista, ainda que eleito democraticamente, na América Latina. Com o discurso de defesa da "liberdade", os norte-americanos apoiaram três anos depois um violento golpe militar no Chile.

Nem sempre o capitalismo combina com liberdades democráticas. Logo os chilenos saberiam disso. 

Fonte:

O Cruzeiro, ano XLII - nº 43/20 de outubro de 1970, p 124-127.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Marcelo Crivella - meu passado me condena

O senador Marcelo Crivella, candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro teve um livro publicado no Brasil 2002, ressuscitado em plena campanha. A obra Evangelizando a África, é o relato dos 10 anos de trabalho missionário de Crivella em terras africanas.

No livro, Marcelo expõe sua visão dos males que assolam o continente. Miséria, doenças, homossexualidade seriam frutos do pecado e de espíritos malignos. O jornalista Fernando Molica, que assina a matéria para O Globo chega a ironizar: "A julgar pelos ensinamento de Crivella, governos poderiam investir bem menos em saúde se adotassem, de maneira preventiva, políticas públicas baseadas na expulsão de demônios do corpo dos cidadãos".


Em nota enviada ao jornal carioca, o nobre senador pede perdão pelas ofensas. Conta que escreveu o livro em um contexto de guerras, superstições e feitiçarias. Sua inexperiência e zelo foram os causadores dos ataques, que ele considerou "um lamentável erro". 

Assim, contraditoriamente, cada vez mais o político Crivella procura se afastar do bispo da Igreja Universal que ele foi um dia. E mais: renega os ensinamentos da denominação que alavancou sua carreira eclesiástica e política. O passado glorioso de missionário, hoje o atrapalha na esfera pública.

Porém, algo do livro pode ser relacionado ao Brasil. Em suas observações, Marcelo informa que o trabalho dos sacerdotes das religiões africanas "se tornou um grande negócio na África, porque é motivado pelo maldito amor ao dinheiro".

Sim, religião pode ser um grande empreendimento. O tio do senador e outros líderes religiosos sabem muito bem disso.

Fonte:

O Globo, 16 de outubro de 2016.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Roberto Carlos - do inferno ao céu

Há pouco mais de 50 anos, um jovem cabeludo causou furor entre a juventude brasileira na década de 1960. Roberto Carlos lançou em 1965, o hit Quero Que Vá Tudo Pro Inferno. Apesar do estrondoso sucesso, nem tudo foi um mar de rosas. Grande parte da sociedade conservadora resistiu. Rádios recusavam a tocar a música e a Igreja Católica se escandalizou com a canção. Era a perversão dos bons costumes. No ano seguinte, para amenizar os ânimos dos religiosos e compensar o "prejuízo espiritual", ele compôs Eu Te Darei o Céu.




Fonte: Roberto Carlos - Coleção Folha Explica - Oscar Pilagallo