terça-feira, 25 de outubro de 2016

Salvador Allende - para onde vai o Chile

Em 1970, a equipe da revista O Cruzeiro foi até um simples chalé na Rua Guarda Vieja em Santiago, capital do Chile para entrevistar o recém-eleito presidente do país, Salvador Allende, "o homem mais discutido" na América Latina naquele momento.

Allende e esposa: expectativas e temores

A eleição de Allende havia surpreendido o mundo. "Pela primeira vez um candidato marxista chega ao poder através de eleições livres" - iniciava a matéria do extinto semanário. Fica claro também nas páginas de O Cruzeiro, os enormes impasses e desafios do experiente político chileno. Sem maioria no Congresso, o senador não poderia transigir com "a união dos partidos que o elegeu", uma coalização das esquerdas chamada Unidade Popular (UP).

Destacou-se na entrevista a participação da família Allende na campanha. A esposa e as três filhas participaram ativamente da campanha e ajudaram na conquista do voto feminino. O presidente eleito declarou que o Chile havia incorporado com rapidez "a mulher à vida pública". Prometia ele, que em seu governo, as mulheres alcançariam ampla igualdade de direitos.

Apesar do temores com as conhecidas opções políticas do presidente, Allende afirmou que o caminho para o socialismo no Chile seria "segundo as estritas regras democráticas". Mas para os conservadores, longe de ser um avanço, a vitória da UP era sinal de declínio da democracia chilena.

Em todos os momentos, o veterano político afirmou o respeito às liberdades constitucionais. Mas as tensões eram grandes. O mundo estava em plena Guerra Fria e os EUA estavam preocupados em impedir a posse do presidente antes dele assumir o cargo.

Para os Estados Unidos, não poderia haver possibilidade de um governo socialista, ainda que eleito democraticamente, na América Latina. Com o discurso de defesa da "liberdade", os norte-americanos apoiaram três anos depois um violento golpe militar no Chile.

Nem sempre o capitalismo combina com liberdades democráticas. Logo os chilenos saberiam disso. 

Fonte:

O Cruzeiro, ano XLII - nº 43/20 de outubro de 1970, p 124-127.

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